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10 mil horas para o sucesso? Descubra o que a ciência realmente diz sobre ser um expert, não os gurus de autoajuda


Uma ilustração colorida sem texto mostra uma pessoa em uma mesa com pilhas de papéis, uma tela de computador brilhante e relógios indicando horários diversos. O fundo usa cores intensas como vermelho, amarelo e azul para transmitir a sensação de sobrecarga.

A prática e o desenvolvimento da expertise: revisitando a tese das 10 mil horas


A tese de que seriam necessárias 10 mil horas de prática para que uma pessoa se tornasse especialista em uma atividade tem sido amplamente difundida em contextos populares e acadêmicos.


Essa ideia, baseada nos estudos do psicólogo Anders Ericsson, foi popularizada por Malcolm Gladwell no livro Outliers (2008). Contudo, há uma série de nuances e equívocos associados a essa generalização, que precisam ser analisados para uma compreensão mais rigorosa do tema.


A origem da tese e a prática deliberada


Os estudos de Ericsson (1993) apontam que o desenvolvimento de expertise em atividades complexas não depende apenas da quantidade de horas dedicadas, mas da qualidade dessas horas, definida por ele como prática deliberada.


Essa prática envolve atividades estruturadas, voltadas para melhorar aspectos específicos do desempenho, sempre acompanhadas de feedback constante e ajuste contínuo.


Essa abordagem difere da prática ingênua, na qual indivíduos repetem tarefas sem critérios claros de avaliação ou supervisão.

Ericsson e Pool (2016) explicam que a prática deliberada exige sair da zona de conforto, focar em fraquezas específicas e buscar melhorias incrementais, enquanto a prática ingênua tende a reforçar erros e limitações.


Evidências empíricas e contextos variados


Pesquisas empíricas têm demonstrado que a prática deliberada é fundamental para o desenvolvimento de habilidades, mas que o tempo necessário para alcançar a expertise varia de acordo com o contexto. Por exemplo, Hayes (1989) identificou que compositores de música clássica precisavam de aproximadamente 10 anos de prática para produzir suas melhores obras. Entretanto, em áreas como esportes ou artes visuais, o tempo de dedicação pode variar em função de fatores como aptidão individual, acesso a recursos e suporte institucional.


Além disso, Dweck (2006), ao desenvolver a teoria da mentalidade de crescimento, destaca que o esforço consciente aliado à receptividade ao aprendizado é determinante para o desenvolvimento de habilidades. Isso sugere que o contexto social e psicológico em que a prática ocorre também influencia significativamente os resultados.


Críticas à generalização das 10 mil horas


A popularização da tese das 10 mil horas tende a simplificar a complexidade do aprendizado humano. Gladwell (2008), ao propor que a prática extensa é o principal fator de sucesso, não aborda com profundidade as condições em que essa prática ocorre.


Como destaca Ericsson (2007), o mero acúmulo de horas não garante progresso, especialmente quando as atividades realizadas não são desafiadoras ou não recebem feedback adequado.


Uma pintura expressiva em estilo clássico retrata uma pessoa cansada sentada à mesa, cercada por papéis empilhados, um monitor brilhante e relógios que simbolizam longas horas de trabalho. A cena usa tons dramáticos e texturas visíveis para destacar o impacto emocional.


Outro ponto importante é a influência de fatores externos, como acesso a treinadores, materiais e oportunidades de desenvolvimento. Estudos como os de Bronfenbrenner (1979) ressaltam a importância do contexto ecológico no desenvolvimento humano, incluindo fatores culturais e socioeconômicos que moldam as oportunidades de aprendizado.


A tese das 10 mil horas, embora fundamentada em estudos relevantes, não pode ser considerada uma regra absoluta para o desenvolvimento da expertise.

O que os estudos demonstram é que a prática deliberada, aliada a condições favoráveis e suporte adequado, desempenha papel central no aprimoramento de habilidades.

Portanto, ao abordar o tema, é necessário evitar simplificações e considerar a multiplicidade de fatores que influenciam o processo de aprendizado. A prática deliberada, embora não garanta a maestria por si só, oferece um caminho estruturado para o desenvolvimento contínuo.



Referências bibliográficas


BRONFENBRENNER, Urie. The Ecology of Human Development. Cambridge: Harvard University Press, 1979.


DWECK, Carol S. Mindset: The New Psychology of Success. New York: Random House, 2006.


ERICSSON, K. Anders. Deliberate practice and the acquisition and maintenance of expert performance in medicine and related domains. Academic Medicine, v. 79, n. 10, p. S70-S81, 2004.


ERICSSON, K. Anders; KRAMPE, Ralf T.; TESCH-RÖMER, Clemens. The role of deliberate practice in the acquisition of expert performance. Psychological Review, v. 100, n. 3, p. 363-406, 1993.


ERICSSON, K. Anders; POOL, Robert. Peak: Secrets from the New Science of Expertise. Boston: Houghton Mifflin Harcourt, 2016.


GLADWELL, Malcolm. Outliers: The Story of Success. New York: Little, Brown and Company, 2008.


HAYES, John R. Cognitive processes in creativity. In: GLOVER, J. A.; RONNING, R. R.; REYNOLDS, C. R. (Eds.). Handbook of creativity. Boston: Springer, 1989. p. 135-145.

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