Nobel de Física 2024: como as Redes Neurais de Hopfield e Hinton estão transformando a Inteligência Artificial e nossas vidas
- W. Gabriel de Oliveira
- 8 de out. de 2024
- 3 min de leitura

O Prêmio Nobel de Física de 2024 foi concedido aos cientistas John Hopfield e Geoffrey Hinton, por suas descobertas fundamentais que lançaram as bases para o aprendizado de máquina. Esse campo, conhecido como machine learning, tem revolucionado não apenas a ciência e a engenharia, mas também a vida cotidiana, moldando o futuro da inteligência artificial (IA) em várias áreas do conhecimento.
Hopfield, professor da Universidade de Princeton, desenvolveu o conceito de memória associativa, que permite a redes neurais artificiais armazenar e reconstruir imagens e padrões, facilitando a identificação de dados de maneira eficiente e autônoma. Sua "rede Hopfield" simula o funcionamento do cérebro humano, utilizando a física estatística para reduzir a energia da rede e encontrar a melhor correspondência com padrões incompletos ou distorcidos, o que abriu novas possibilidades na IA (Hopfield, 1982).
Por outro lado, Geoffrey Hinton, professor na Universidade de Toronto, aperfeiçoou essas ideias com a "Máquina de Boltzmann", uma rede neural capaz de classificar imagens e gerar novos exemplos a partir de padrões previamente aprendidos. Essa abordagem tem sido amplamente aplicada em áreas como visão computacional e reconhecimento de fala (Hinton, 1986), consolidando o machine learning como uma tecnologia central para a IA.
Entretanto, apesar dos avanços significativos, tanto Hopfield quanto Hinton têm levantado importantes críticas e alertas sobre o uso indiscriminado da IA. O rápido avanço da tecnologia de machine learning, especialmente no contexto de redes neurais, tem levantado questões sobre seus impactos éticos e sociais.
Eles apontam a necessidade de uma abordagem crítica e cuidadosa, considerando os riscos de desinformação e viés que podem surgir no uso de sistemas automatizados. O desenvolvimento de IA sem regulamentação e sem um entendimento profundo dos seus limites pode gerar consequências adversas, particularmente em áreas como a educação e o mercado de trabalho.

Dentro desse contexto, é importante ressaltar que os estudos sobre o impacto da IA não estão restritos apenas às áreas de física e computação. No Brasil, o Laboratório Multimeios da Universidade Federal do Ceará, por exemplo, tem se destacado ao investigar o uso da IA no processo educacional, especialmente na investigação dos impactos e de ferramentas pedagógicas. Ao redor do mundo, aplicações de tecnologias como as redes neurais artificiais no ensino estão sendo testadas para potencializar a aprendizagem personalizada e monitorar o progresso individual dos alunos, uma inovação que também demanda atenção aos cuidados éticos e pedagógicos necessários.
O Prêmio Nobel de Física de 2024 não apenas reconhece a importância científica das redes neurais e do aprendizado de máquina, mas também reforça a necessidade de uma visão crítica sobre os usos dessa tecnologia. Os artigos de Hopfield e Hinton (1982; 1986) continuam a servir de base para inúmeras pesquisas que integram a IA em diferentes campos. É fundamental que cientistas e educadores mantenham o diálogo constante sobre os desafios e responsabilidades associados ao desenvolvimento dessas ferramentas.
PARA SABER MAIS:
O artigo Learning Representations by Back-propagating Errors, publicado em 1986 por Geoffrey Hinton, é um de seus trabalhos mais influentes, que introduziu a técnica de retropropagação de erros em redes neurais artificiais, um conceito fundamental para o aprendizado profundo (deep learning) que usamos hoje, uma técnica central para o treinamento de redes neurais.
Já o artigo Neural Networks and Physical Systems with Emergent Collective Computational Abilities, publicado em 1982 por John Hopfield nos Proceedings of the National Academy of Sciences, apresentou o conceito de redes de Hopfield. Essas redes são modelos de memória associativa que utilizam a física estatística para processar informações de forma semelhante ao cérebro humano.
Ambos os artigos são marcos importantes no desenvolvimento da inteligência artificial e machine learning.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HINTON, Geoffrey E. Learning Representations by Back-propagating Errors. Nature, 1986. Acessado em: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.79.8.2554
HOPFIELD, John J. Neural Networks and Physical Systems with Emergent Collective Computational Abilities. Proceedings of the National Academy of Sciences, 1982. Acessado em: https://www.nature.com/articles/323533a0
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